domingo, 27 de março de 2011

Dom - capítulo 2

Do outro lado da rua, um casal da mesma idade de Aurélio e Maíra passava tranqüilamente. Era uma bela tarde de sábado. Tinham ido atrás do trio elétrico, dançaram, pularam e se divertiram e agora estavam indo para o carro. Quando se prepararam para atravessar a rua, olhando dos dois lados, seus olhos pousaram em algo que os fez parar. Era um homem e uma mulher que estavam atravessando a rua correndo. Logo, na contramão, surgiu uma moto amarela com uma loira pilotando. Como estava de capacete, não pôde ver o rosto dela. Em uma arrancada brusca, ele veio com tudo na direção do homem. A mulher gritou algo que eles não compreenderam.
O casal foi se aproximando com largos passos e falando algo para o homem, mas este não os escutou.
A mulher ao lado do homem o empurrou na direção da calçada e caiu no chão. A loira da moto viu a mulher no chão e tentou frear. Estava muito em cima. A moto não respondia. Ela virou sua moto para o lado, contudo ela não respondeu e bateu na mulher. O impacto foi tão forte que as duas mulheres foram arremessadas para frente. Maíra, por sorte, caiu com a cabeça a alguns centímetros da guia. Caso ela tivesse batido a cabeça na guia da calçada, com certeza a sua história terminaria aqui. Aurélio se virou para Maíra e gritou:
– Maíra!! Você...
O casal, no outro lado da rua, correu para seu carro e o trouxeram para perto de Maíra. Aurélio viu e foi também para perto dela. Antes, Aurélio foi para perto da moto e anotou a placa. Enquanto os estranhos socorriam Maíra, ele chegou e foi logo questionando:
– Vocês são parentes ou amigos dela?
– Não, somos apenas boas pessoas. Vamos! Entre no carro. Você também ira para o hospital.
Aurélio se espantou com o cuidado que eles puseram Maíra no porta-malas do carro. O carro era um Quantum roxo. Com o enorme porta-malas do carro, Maíra ficou deitada do mesmo jeito que estava no chão da rua. Aurélio sabia que não era correto mexer numa pessoa atropelada, mas ela estava com alguma hemorragia, pois perdia muito sangue. Dentro do carro, ele falava para as boas almas:
– Qual o nome de vocês?
– Eu me chamo Miguel e minha noiva se chama Santana. – respondeu sem tirar os olhos da avenida.
– Estou profundamente agradecido com a ajuda de vocês. Não saberia o que fazer se vocês não estivessem passando por lá.
– Vamos levá-la no hospital aqui perto. É naquela esquina. É pública.
– Pública? Não é que eu não goste, mas tem alguma particular por aqui?
– Tem! Fica a meio quilômetro daqui.
– Vamos para lá, rápido!
Agora, dirigindo-se ao hospital particular, o Quantum aumentou sua velocidade para setenta quilômetros por hora, que era a velocidade máxima permitida na avenida. O sangue que se originava do corte de Maíra estava se empoçando no plástico que jazia abaixo dela. Aurélio começou a ficar preocupado, pois Maíra começava a ficar pálida.
Sua preocupação ficou mais branda quando chegaram ao hospital. Aurélio pulou fora do carro e pediu ajuda. Imediatamente, apareceu-lhe uma equipe médica com uma maca.
– Ela foi atropelada, cuidado! Ajudem-na por favor! – disse Aurélio, com um desespero na voz.
– Quem é o Senhor? Algum parente ou amigo? – perguntou um médico.
– Sou amigo dela. Seu nome é Maíra. Acho que ela esta com seus documentos.
O hospital onde Maíra fora internada tinha o piso de cerâmica grossa, grande e branca, suas paredes continham azulejos de cor bege. As cadeiras eram individuais, com assento almofadado, as mesas eram de tampo de vidro fume, e a recepção era composta de uma mesa com quatro cadeiras, duas para as recepcionistas e duas para os pacientes, um computador e uma prancheta contendo questões para os pacientes que quiserem preencher. Aurélio se encontrava lá agora, na recepção, preenchendo a prancheta com questionário. Depois, um médico apareceu e Aurélio começou a contar o que aconteceu.
Após a explicação dos fatos e um rápido exame, um médico veio e disse que ela havia quebrado um osso, o fêmur. E ainda lhe disse o motivo pelo qual sangrava: um aborto.
O médico continuou explicando:
– Pelo que você me contou, ela caiu depois de ter te empurrado. Não foi?
– Sim. Exatamente.
– Ela pode ter caído de barriga para frente e a moto, de imediato, bateu nela. Com o impacto, a sua bolsa estourou-se. O sangue e o líquido da bolsa onde continha o feto saíram, deixando o bebê sem líquido para se desenvolver e continuar a evolução. – explicou, sério, o médico.
– Meu Pai do Céu! Você não me diz que... que... – estarrecido, Aurélio.
– Isso mesmo, ela perdeu o bebê. – completou com um pesar na voz.
Aurélio ficou muito triste. Não sabia que Maíra esperava um filho. E ainda ela não lhe contara. Se ele soubesse, não teria falado para ela correr até o hotel.
Seu pensamento foi cortado com uma voz. A voz de uma pessoa que o ajudou a estar ali:
– Tudo bem com sua esposa? – Perguntou Miguel.
– Está bem sim, mas ela não é minha esposa, é minha amiga.
– Oh, sim! Tem algo que possamos fazer para ajudá-los?
– Não, muito obrigado. Estou muito grato a vocês. Vocês fizeram o mais importante: trazê-la aqui.
– Já estamos voltando, mas se vocês precisarem de alguma coisa... – Miguel pegou um papel e anotou um número – Toma – levou o papel ao encontro de Aurélio – esse é o nosso telefone. Até mais!
– Tchau! E que Maíra fique melhor. – despediu-se Santana.
Aurélio pegou o papel, olhou o telefone e pôs no bolso de seu short marrom. Em seguida foi à sala de espera, sentou-se no banco, pegou uma revista da semana e começou a ler.

Continua...

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