sábado, 12 de março de 2011

Dom - capítulo 1

Em fevereiro, a Bahia está em festa constante, o povo pula e dança alegremente no carnaval. As multidões se aglomeram em volta dos trios elétricos e cantam junto com os famosos cantores que sempre vão prestigiar esta magnífica festa brasileira.
Neste dia, estão presentes duas bandas baianas de corpo e alma: Olodum e Banda Eva.
– E aí minha gente, vamos sacudir o esqueleto? – questionou o vocalista do Olodum.
– Vamos começar! Tira o pé do chãããoooo!! – começou a festa, Danyela Mercury, da Banda Eva.
Em seguida toda a multidão começou a pular e a festa começa. As duas bandas cantam seus sucessos e é alegria total.
Nesse negócio de festa e carnaval da Bahia, muitos dos que se encontram ali são turistas. No meio dos turistas há um brasileiro que mora nos Estados Unidos e que esta passando as férias na Bahia. Aproveitando bem a festa, ele vai até um barzinho e compra uma lata de cerveja. Esse barzinho era simples. Tinha um balcão de cimento com uma aparência velha e gasta, uns bancos de madeira em sua frente e no meio várias mesas de plásticos com suas respectivas cadeiras. Havia muitas pessoas tomando cerveja e conversando sobre a festa. O clima no local era de alegria.
– Uma Bohêmia, por favor. – pergunta um turista com sotaque.
– Não temos essa, quer outra? – responde o vendedor.
– Sim, uma Skol, vocês têm? – pede outra.
– Claro... Prontinho. – pegou a lata e entregou ao turista.
– Toma o dinheiro e muito obrigado. – pegou a cerveja e saiu.
Indo para calçada, distraidamente, ele não vê uma mulher que vem correndo em sua direção e ela cai em cima dele. Nervosa, ela grita:
– Você é louco! Olhe para os lados quando for andar! – reclamou, levantando-se.
– Olho pros lados quando for atravessar a rua, mas aqui no Brasil até nas calçadas sobem os caminhões! – retrucou ele, arrumando suas roupas.
– Olha aqui seu... – ela parou repentinamente, ao ver como era belo o homem que acabara de atropelar. Usava short marrom, uma camisa amarela, um chinelo Havaianas amarelo, um óculos de sol e um relógio Mormaii. Seu cabelo e seus olhos eram castanhos, sua face tinha traços de cansaço. Sua pele era clara e seu corpo tinha um porte semi-atlético. Aparentava ter mais ou menos trinta anos.
– O que você iria me... – parou também ao ver a mulher que o jogara no chão. Vestia roupas largas, como uma saia e uma blusinha – parecia que ela iria dançar. Seu cabelo longo e encaracolado até as costas dava-lhe a impressão de ser uma mulher de fibra e forte. Sua pele era morena e seus olhos castanhos. Seu rosto era fino e delicado como de uma boneca de porcelana. Apontava ter mais de vinte anos.
– Olha, me desculpa, eu não devia... – ela disse se explicando.
– Desculpa digo eu que fui andando e... – ele parou ajudando-a se levantar.
– Bem, tem alguma coisa que eu possa fazer por você? – ele continuo.
– Já que você disse... Vamos tomar uma cerveja naquele barzinho? – ela opinou.

●●●

O barzinho que ela sugeriu ficava a uns quinze metros de onde estavam. Era bem grande e extremamente organizado. Tinha a parte de baixo, aberta ao público e aos clientes, e a parte de cima, que era paga. Na parte inferior continha várias mesas e cadeiras de plástico com propaganda de cervejas. Tudo bem limpo e muito arranjado com quatro cadeiras em cada mesa. A parte inferior estava completamente cheia, tinha pessoas sentadas até em cima das mesas, o que já se era de imaginar. A parte superior estava mais tranqüila e com gente mais bem-educada. Suas mesas eram de madeira mogno e suas cadeiras eram almofadadas. As mesas que estavam voltadas para a rua estavam quase lotadas. Havia apenas uma mesa restando. O atendimento na parte superior era totalmente diferente da parte inferior. Tinham garçons e vendedores que falavam inglês e espanhol básico e o modo com o qual tratavam seus clientes era magnífico. Essa era o método adotado pelo dono do barzinho para conseguir atender a todos os clientes: de primeira a terceira classe.
Perto do barzinho, a mulher se tocou que ainda não tinha perguntado o nome do homem.
– Meu nome é Aurélio, e o seu?
– Maíra. Eu me chamo Maíra.
– Bonito nome. Minha prima tem esse mesmo nome.
Maíra pôs a mão nas costas de Aurélio, levando-o de encontro ao barzinho que logo se avistava, quase cheio. Aurélio sentiu o calor da mão de Maíra em suas costas. Sua mão era pequena e forte. Seu toque continha uma magia, uma simplicidade que o deixara estranhamente desconcertado. Quando se deu por si, ela estava perguntando algo a ele:
– Hello!? Ainda esta aí? Terra chamando...!
– Oi? Estava com meu pensamento longe. O que dizia?
– Chegamos! Vamos subir ou ficar aqui em baixo?
– Tanto faz, por que?
– É que lá em cima da pra ver o trio elétrico passar com os artistas. E lá é o lugar perfeito para turistas.
– Se é como você diz, vamos! – disse subindo a escada em forma de caracol.
Sentando-se à mesa, Aurélio diz à Maíra:
– Você não brincou quando disse que aqui era perfeito para turistas. Nem parece bar, e sim um luxuoso restaurante. – falou maravilhado com o atendimento e a organização.
Ele a olhou bem fundo nos seus olhos e perguntou:
– Você está bem? Parece abatida. Aconteceu alguma coisa?
– Não, não! Só estou um pouco cansada. – disse virando-se para a rua. Ao longe dava para se ver o trio elétrico subindo a rua com toda aquela multidão.
– Conte-me um pouco sobre você! – disse animada.
– Está bem, deixe-me ver por onde começo. Eu nasci em São Paulo, estudei jornalismo na USP, me formei e me mudei para os Estados Unidos. Ao chegar, fui trabalhar direto num jornal pequeno e, com minhas qualidades, cresci e fui para o New York Times. Ultimamente, tem pessoas que não me querem lá. Por isso vim passar umas férias aqui no Brasil e aproveitar para procurar um trabalho em algum jornal brasileiro. Sou solteiro e brevemente voltarei a morar no Brasil. E você?
– Sou solteira também!
– Sim, continue. – sua voz veio com um pouco de alegria.
– Foi impressão minha ou você se alegrou ao saber que sou solteira?
– Não...é que...hã....
– Calma! Eu também gostei de você. Não fique encabulado.
– Ai meu Deus! Sou um desastre como ‘rapaz sedutor’. – afirmou brincando.
– Percebi!
Os dois caíram na gargalhada após esta rápida e divertida conversa. Uma coisa que os dois não sabiam era que um estava, seriamente, se apegando ao outro de uma forma incrivelmente rápida. O amor começava a brotar desse incrível encontro. Menos de duas horas depois, Aurélio olhou para seu relógio e viu que já se passava de uma hora e meia da tarde.
– Meu Deus, já são vinte pras duas. Tenho um vôo marcado para São Paulo em menos de duas horas! – se espantou ao ver o relógio no seu pulso.
– Você já fez as malas e todos os outros preparativos para sair daqui? – Maíra perguntou, achando que ele tinha tempo suficiente para ir para o aeroporto.
– Sabe o que é pior? Não fiz mala alguma.
– Onde você está hospedado? Talvez eu possa ir lá te ajudar.
– Estou num hotel a mais ou menos meio quilômetro daqui. – respondeu se levantando e deixando o dinheiro acima da mesa.
Em seguida, saíram do bar e foram correndo para o hotel que estava logo à frente. Em meio à correria foram surpreendidos por uma moto que vinha na contramão. Maíra viu a moto. Aurélio não. Como Aurélio estava na frente e a moto estava na sua direção, Maíra, simplesmente, agiu por instinto.
– Aurélio, cuidado!! – gritou desesperada.
Continua...
Ed Silva

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